quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O olhar atento de um professor pode ajudar muito um aluno!


Conversei com uma amiga que recentemente passou com seus dois filhos por um assalto. Além do trauma que esta experiência trouxe, no assalto foi roubado todo o material escolar dos meninos que estava no carro. No dia seguinte, minha amiga foi à escola e conversou com a coordenação comentando o ocorrido e solicitando orientação de como organizar novamente a vida escolar dos meninos. Os livros roubados seriam comprados, porém surgiu a dúvida de como agir com o conteúdo que estava nos cadernos. A coordenação foi muito prática nesta questão, o que já havia sido assimilado e avaliado, poderia ficar para trás, apenas conteúdos de português e matemática que ainda seriam avaliados precisariam ser xerocados de outro caderno. A professora do filho menor que está no fundamental 1 solicitou que o caderno de caligrafia fosse refeito. Minha amiga discordou da professora dizendo que o menino havia passado por um trauma muito sério com relação ao assalto, estava apresentando reações de medo e insegurança e que o exercício motor que o caderno de caligrafia propunha já havia sido feito anteriormente! Concordei com ela. Mas o que quero ressaltar dessa história toda é a sensibilidade do professor de ensino fundamental 1 frente a uma questão emocional e traumática do aluno. Vejo que o enfoque era o caderno de caligrafia e o material perdido e não a estrutura emocional dessa criança.
Peço a vocês uma reflexão: Um aluno bem emocionalmente, com estruturas sólidas, consegue atingir melhor os objetivos propostos pela escola. Se isso é um fato, porque o professor não dá a devida importância?
Vejo muitos professores focando sua aula em conteúdos , quando a turma toda precisa de atenção, e atividades que a façam equilibrar-se emocionalmente.
Quando uma criança passa por um trauma ou a turma toda, como foi o caso da escola de Realengo no Rio de Janeiro, a professora, ou melhor, toda a equipe deve ficar atenta para ajudar esse aluno, não só pensando no que se perdeu, mas sim em como ajudá-lo a voltar para uma rotina emocionalmente saudável.
Em uma entrevista Juan Casassus, filósofo e sociólogo chileno afirma que a importância dos fatores emocionais ligados a aprendizagem é muito importante e tem um peso fundamental no desenvolvimento do aluno. Segundo Casassus “Quando os estudantes se sentem aceitos, os músculos se distendem e o corpo relaxa. O reflexo disso é que eles se tornam mais seguros. Assim, o medo se reduz, as crianças ficam mais espontâneas e participativas e sem temor de cometer erros - quero sublinhar que o mecanismo da tentativa e erro é fundamental para aprender. Confiantes, elas são capazes de mostrar até mesmo o momento em que o interesse pelo assunto tratado em sala desaparece - e o porquê de isso ter ocorrido. Construir uma relação assim pode demorar, mas certamente nunca será desperdício de tempo.”
Nesta situação de trauma, o professor precisa ter a habilidade de observar o aluno e ajudá-lo, neste caso a palavra mais adequada e que todo professor deve conhecer é a resiliência.
Recentemente li um artigo da professora Dra. Sandra Maia Farias Vasconcelos que nos mostra como lidar com situações de traumas. Leia a seguir:
“Há mais de quarenta anos, a ciência tem-se interrogado sobre o fato de que certas pessoas têm a capacidade de superar as piores situações, enquanto outras ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia que se abateram sobre elas como numa rede engodada. Por que certos indivíduos são capazes de se levantar após um grande trauma e outros permanecem no chamado fundo do poço, incapazes de, mesmo sabendo não ter mais forças para cavar, subir tomando como apoio as paredes desse poço e continuar seu caminho?
As experiências e estudos feitos têm mostrado algumas explicações científicas sobre esse fato. A biologia defende o ponto de vista de que cada ser humano é dotado de um potencial genético que o faz ser mais resistente que outros. A psicologia, por sua vez, dá realce e importância das relações familiares, sobretudo na infância, que construirá nesse individuo a capacidade de suportar certas crises e de superá-las. A sociologia vai fazer referência à influência do entorno, da cultura, das tradições como construtores dessa capacidade do individuo de suplantar as adversidades. A teologia traz um aporte diferente pela própria subjetividade transcendente, uma visão outra da condição humana e da necessidade do sofrimento como fator de evolução espiritual: o célebre “dar a outra face”.
Mas foi o cotidiano das pessoas que passam por traumas, que realmente atravessam o vale das sombras, o que realmente atraiu a curiosidade de cientistas do mundo inteiro. Não são personagens de ficção que se erguem após a grande queda; são homens, mulheres, crianças, velhos, o individuo comum do mundo que retoma sua vida após a morte de um filho, a perda de uma parte de seu corpo, a perda do emprego, doenças graves, físicas ou psíquicas, em si mesmo ou em alguém da família, razões suficientes para levar um individuo ao caos. Esses que são capazes de continuar uma vida de qualidade, sem autopunições, sem resignação destruidora, que renascem dos escombros, esses são seres resilientes.
A resiliência é um termo oriundo da física. Trata-se da capacidade dos materiais de resistirem aos choques. Esse termo passou por um deslizamento em direção às ciências humanas e hoje representa a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência do individuo face às adversidades, não somente guiada por uma resistência física, mas pela visão positiva de reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo, do estresse, das contrições sociais, que influenciam negativamente para seu retorno à vida. Assim, um dos fatores de resiliência é a capacidade do individuo de garantir sua integridade, mesmo nos momentos mais críticos.
Não se é resiliente sozinho, embora a resiliência seja íntima e pessoal. Um dos fatores de maior importância é o apoio e o acolhimento, feito em geral por outro individuo.”
Assim como o filho da minha amiga terá que ser resiliente com o apoio da família e da escola, aquelas crianças de Realengo-RJ também, porém a ajuda do professor é fundamental neste processo.
Professor leia mais, procure informações pertinentes ao bem estar emocional do seu aluno, com certeza você fará a diferença na vida dele!