A proposta do trabalho foi essa : Depois de estudarmos a função da
aprendizagem, os princípios psicopedagógicos, os sintomas da não aprendizagem e
lermos este interessante artigo, chegou sua vez de escrever, de opinar sobre as
condutas da aprendizagem nos contextos, família e escola. Bom trabalho!
Segunda-feira,
são seis horas da manhã e é hora de acordar o Pedro para ir à escola. Hoje, ele
tem dentista antes da natação e depois da natação tem lição de casa. Amanhã e
quinta tem inglês, porque sabe como é né? O inglês da escola não é suficiente e
hoje em dia o inglês só não basta, estou pensando em aulas de espanhol também,
quem sabe? Além disso, ele faz judô, faz circo e a escola está oferecendo
teatro agora. Pedro é tímido, acho que o teatro pode ajuda-lo nisso.
“-
Larga esse tablet e vem jantar!” – ou vem com o tablet mesmo, assim não faz
tanta birra pra comer os brócolis que tem na salada. Antes de dormir tenho que
ajudar o Pedro com a lição de casa, a professora reclamou que as lições estão
incompletas e, além disso, as notas dele estão caindo em matemática. Já marquei
aula particular pra quarta, antes da prova.
Fui
chamada na escola pra conversar sobre o comportamento do Pedro. Parece que ele
anda sem interesse e desatento nas aulas. A professora se queixou que ele
também está um pouco arredio e até violento com os colegas. Reparei isso em
casa também. Agora ele diz que quer largar o judô! Não entendo, ele gostava
tanto... A professora orientou que eu o levasse a uma psicopedagoga, mas pra
essa semana não dá, vai ter que ser na próxima terça!
Esse
é o cotidiano do Pedro, da Carol, do Ivan, da Gabriela, do Matheus e de outras
crianças que enfrentam, desde cedo, uma rotina excessiva de atividades
extracurriculares e de cobrança. É claro que os pais pensam ser esse o melhor
para os seus filhos, mas e as crianças? Será que estão prontas para enfrentar
esse ritmo acelerado de estudo? Será que realmente precisam ser boas em todas
as áreas e ter contato com diversas línguas e esportes o quanto antes? Mesmo
aqueles que não são de seu interesse?
O
tempo corre para os pais, o tempo corre para a escola. O ranking de notas e o
sucesso escolar ditam o tempo e o conhecimento que deve ser priorizado. As
crianças se apressam, as crianças ficam ansiosas, as crianças não mais percebem
a borboleta que passou por elas, as crianças possuem dificuldades em aprender.
Elas têm dificuldade em aprender no tempo da escola, no tempo que a sociedade
exige e agora no tempo delas mesmas.
O
artigo discutido por Elisa Pitombo[1] e as questões apresentadas
em aula sobre os princípios pedagógicos e a não aprendizagem me fazem refletir
sobre a infância que proporcionamos às nossas crianças e a qualidade de vida
que elas estão tendo. Os pais almejam que seus filhos sejam os melhores da
escola, isso expressa um status social privilegiado. A escola aprecia o bom
desempenho do aluno, isso diz que sua prática pedagógica é eficiente. E o aluno
espera ter sucesso em seus estudos, pois isso é valor para ele, isso diz que
ele está “enquadrado”, que ele está dentro do que é esperado. Só que sabemos
que as pessoas aprendem em tempos e de jeitos diferentes. Sabemos, através de
teóricos e na prática que não é possível fazer todo mundo aprender a mesma
matéria do mesmo jeito. Mas a escola segue a cobrança social do sucesso, os
pais acreditam que as boas notas do filho significa a qualidade do aprendizado
e os filhos, por sua vez, são reflexos das cobranças e expectativas que
atribuímos a eles.
Em
2009 foi lançado nos Estados Unidos o documentário Race to Nowhere (corrida para lugar
nenhum) que traz relatos de crianças e adolescentes que sofrem a pressão pelo
sucesso escolar. São histórias de alunos que desenvolveram doenças
psicossomáticas, que se envolveram com drogas e abandonaram cursos por conta do
excesso de pressão que sofreram. No filme, relata até o caso extremo da menina
de 13 anos que se suicidou após ter “fracassado” em um teste de matemática.
Acredito que este filme
vai ao encontro com o que foi discutido no artigo e com as características de
não aprendizagem das crianças, como abandono, desinteresse, desatenção, dentre
outros. Neste caso, a não aprendizagem está relacionada a um processo de
aprendizado esperado por uma sociedade em específico, a sociedade da
competitividade, do mercado de trabalho, da produção. O “sucesso escolar”, por
sua vez, segue a mesma lógica. Têm sucesso a criança que tira boa nota, mesmo
sendo copista, não sendo crítica e pouco criativa.
Dessa forma, acredito
que enquanto psicopedagoga em formação tenho que ter o conhecimento das
diversas concepções pedagógicas existentes e dos vários princípios
psicopedagógicos que guiam o processo de aprendizagem, para conseguir
identificar a dificuldade da criança e discernir se essa dificuldade é
proveniente do seu processo de aprendizado ou da exigência da escola e dos pais.
Dessa forma, preciso respaldar-me teoricamente para saber orientar os pais
sobre a qualidade de tempo com seus filhos e a escola sobre como proporcionar
momentos de aprendizagem que sejam prazerosos e significativos para a criança. A
minha opinião, portanto, é que a partir da psicopedagogia consigamos trazer um
olhar mais humano para o aprendizado de nossas crianças.