terça-feira, 5 de junho de 2012

VAI TOMAR LEITINHO COM A MAMÃE!


Este texto é de autoria de um amigo Flávio Lettieri. Li em seu blog e gostei muito! Vale a leitura!!!

Vai tomar leitinho com a Mamãe”, gritou o homem irritado ao ver a bola sair pela linha de fundo.

“Chuta igual macho, seu pezinho de boneca”, esbravejava o mesmo homem, alguns instantes mais tarde.
Dentro da quadra, o menino de cabeça baixa tentava não ouvir os xingamentos que vinham do seu pai.
Tudo isso eu presenciei no último domingo, quando acompanhava meu filho em um campeonato de futebol.
Era um evento com centenas de crianças entre nove e quatorze anos, de diferentes regiões de São Paulo. Alguns bons de bola, outros nem tanto, mas todos ali movidos por suas paixões pelo futebol.
Havia também os pais. Alguns vibrantes, outros nem tanto, mas cada um, de sua forma, torcendo por seus filhos.E tinha também esse babaca, ops, esse pai.Acho que fiquei ainda mais sensibilizado porque o menino tinha o mesmo nome do meu filho. E, como ele, também era magrinho e jogava de atacante.
O pai, contrastando com o menino, era grande e forte. E, não bastando essa desproporção de tamanho entre os dois, o troglodita, ainda que inconscientemente, fazia de tudo para que o garoto se sentisse ainda menor.As pessoas em volta estavam incomodadas com a situação, mas, assim como eu, creio que avaliaram que uma intervenção seria provavelmente mais complicadora do que benéfica.
Por fim, acabei trocando de lugar e me privando daquela cena, após presenciar o desfecho bizarro de um gol…O time do garoto pressionava no ataque e a bola caiu no pé do menino. Ele chutou no canto. O goleiro adversário fez a defesa, espalmando a bola para dentro da área. Outro garoto do time aproveitou a chance e tocou a bola para dentro.
Gol!
Os garotos saíram comemorando, inclusive o “Filho do Pai”.O menino alegre olha para o pai, pedindo a sua aprovação.O homem, com a sua mão erguida, mostrava o número três.O menino ainda eufórico correu em sua direção, com o sorriso aberto.“Três. Três chutes fracos na mão do goleiro. Com esse chutinho de moça não vai fazer gol nunca. Ainda bem que o outro cara chutou igual homem”, gritou o pai.O sorriso desapareceu do rosto. A euforia acabou. Enquanto todos comemoravam, o menino magrinho vivia a sua angústia. Aproximou-se do seu “grande” pai e com a voz tremida disse: “desculpa, pai”.
Aquilo me deu um nó na garganta. Saí de perto, com o coração partido e com a cabeça pensando em um monte de coisas…Possivelmente esse cara grandão deva se ver como alguém muito pequenininho. Toda aquela valentia com o garoto deve ser apenas o reflexo de uma insegurança enorme.Fiquei pensando em como ele seria no seu ambiente de trabalho…
Pelas roupas que vestia e pelo próprio perfil das pessoas no evento, deveria ser alguém com boa escolaridade e com um bom nível sócio econômico.Talvez o cara seja chefe de alguém.E, se ele age assim com o filho, deve agir da mesma forma com os subordinados.
Se ele transfere para o filho as suas cobranças, as suas frustrações e os seus fracassos, deve ser um tirano com seus empregados.
Fiquei pensando nos chefes que eu já vi pela vida afora que tinham esse mesmo comportamento. Todos eles, sem exceção, escondiam uma criança assustada, insegura e diminuta dentro de si.
Essas pessoas gritam para fora, pois precisam esconder os seus próprios gritos interiores.Massacram os outros para fugirem de seus medos.Querem se mostrar grandes para esconder o quanto são pequenos.
O time do menininho ganhou o jogo!Do jeito dele, ele também comemorou a vitória. Dos outros, não a dele. Não tinha como ele se sentir vencedor.Esse menino, com seu “grande pai”, eu vi no domingo. Mas sei que existem muitos outros casos iguais por aí.Sei que existem muitos chefes brutais por aí.
Felizmente, nem chefe eu tenho e não preciso passar por isso.Mas, para aqueles que trabalham com esses trogloditas e que não podem enfrentá-los, ou enchê-los de porradas, deixo uma dica:
Lembrem-se que essas pessoas escondem uma criança assustada. E, para uma criança assustada, o melhor remédio é mesmo o carinho.Pode ser difícil, absolutamente difícil, mas ainda assim é o melhor caminho.



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